O que se vive dentro de uma análise
- Flavia Araújo
- 10 de nov. de 2024
- 2 min de leitura
Atualizado: 12 de fev.

"Eu que não percebo nada, consigo sentir quando o cheiro do consultório muda
Eu que não me lembro de muita coisa, consigo lembrar das palavras mais simples que construíram e destruíram alguns edifícios dentro da minha cabeça
Eu que achava não ter o que falar, descobri que gosto de falar ainda que não tenha nada pronto
Não tem só eu em mim"
@notasfaltanto
Pensando sobre esse texto que escrevi há algum tempo, ao fazer referência a elementos como o cheiro do consultório e as palavras que tanto constroem quanto destroem "edifícios dentro da cabeça", possibilita a transmissão de uma experiência da análise como um processo de transformação. A psicanálise em que estudo, enfatiza justamente esses aspectos do inconsciente, da percepção e da construção de sentidos internos.
A frase "Eu que achava não ter o que falar, descobri que gosto de falar ainda que não tenha nada pronto" toca em algo essencial da psicanálise, especialmente no pensamento de Winnicott, que fala sobre o potencial de criação dentro da análise. A fala, no contexto da transferência, não precisa ser planejada ou ter um conteúdo racionalizado para que tenha valor. Às vezes, é justamente essa fala espontânea e ainda "não pronta" que abre caminho para descobertas e liberações de conteúdos inconscientes.
Já o "não tem só eu em mim", me parece um eco das ideias de Melanie Klein sobre a ambivalência interna, em que o sujeito é habitado por partes de si mesmo que estão em constante conflito ou negociação. Esse "não só eu" pode ser uma referência ao encontro com partes do self que o analisando ainda não reconhecia ou até tentava reprimir.
No fundo, é sobre o impacto da análise no processo de autodescoberta. A pessoa que antes não percebia, agora começa a perceber sutilezas (como o cheiro) e se dá conta de que sua experiência interna está muito mais rica e complexa do que imaginava.



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